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O Isolamento Social - Down

Era 21 de março de 2020, uma sexta-feira.

Saí do trabalho, e fui pra casa. Poderia ser um dia normal, se não houvesse um fantasma no ar. Nos despedimos todos, sem saber quando voltaríamos. 


No primeiro momento, pensei que seria um período tranquilo… eu já estava vivendo um certo isolamento social há algum tempo mesmo… trabalhando tanto, faltando dinheiro pra me divertir, me isolei do mundo. Já tinha um tempo que não conversava muito com ninguém, não conversava por horas com amigas, não tinha histórias pra trocar… e pensei que tudo seria a mesma coisa, porém, no conforto do meu quarto. 


E sabe que até foi? Nada melhor que acordar e começar a trabalhar… de vez em quando eu não queria nem tirar o pijama… não precisar escolher roupa, arrumar bolsa… seria um sonho? 


Eu fiz vários planos para a tal quarentena… saiu a última temporada de 13 Reasons Why, tem temporada de 3% que eu não assisti, estreou Riverdale, retomar Hemlock Grove e mais um monte de outras que eu pensei em maratonar. Pensei em assistir vários filmes. Busquei vários cursos online. E combinei comigo mesma que iria ler ao menos um livro.

Daí você me pergunta… o que você fez com o seu tempo livre? Quantos dos seus planos você concretizou? Eu respondo. Nenhum. 


Com essa mania de “jornalista tem que ler notícias”, eu saí acompanhando todas as notícias do coronavírus, acompanhando o crescimento do número de mortes, quem estava saindo, quem não estava, quem estava doente, quem não estava, o que estavam falando no twitter, no facebook, nos comentários do G1… E claro, que todo esse tempo perdido se transformaria em… ansiedade, piração, tudo isso… 

A rosácea atacou de uma forma que eu quase perdi o controle dela… dá-lhe máscaras de argila, pomadas de corticóide e hidratantes para não perder a batalha… 

Os efeitos do TDAH gritaram aqui dentro. Se já é difícil um TDAH controlar os pensamentos, imagina em crise? Houve dias que nem Ritalina resolveu. 



Meu tempo livre se resumiu em criar paranoias na minha mente… rodar o feed das redes sociais, e agradecer que, num primeiro momento, a maior parte dos meus amigos, ao menos os que chegam pra mim (obrigada, algoritmo!), estavam todos em segurança, e respeitando o momento…  Meu tempo livre também se resumiu em criar histórias… todo dia uma história diferente se cria aqui… problema é que ela nasce de manhã, atinge o seu ápice à tarde, e quando chega a noite, que seria a hora de passar para a tela do computador… ela vai embora. 

Neste tempo, também pentelhei muito os meus gatos. Coitados deles. Mas eles gostam, aprenderam a gostar de tudo que eu apronto com eles. Então tudo bem por aí também. 


Mas nem tudo são flores, e nem tudo estava bem… foi mais ou menos em junho que eu senti que o sono sumiu. Ou que ele apareceu em excesso. Às vezes eu ia dormir, e não conseguia fechar o olho. Às vezes eu ficava assistindo TV ou jogando videogame até de madrugada. Ou simplesmente não conseguia acordar quando o despertador tocava. Ou às vezes simplesmente queria “tirar uma sonequinha” depois do almoço… Mas cara… eu não tenho esse luxo aí não. E foi aí que eu percebi que alguma coisa estava errada. 


Um dia eu olhei no espelho, e vi uma pessoa que eu não conhecia mais… Não reconheci aquela garota desleixada, aquele cabelo despenteado, aquele rosto malcuidado… credo, de quem eram aquelas unhas sem cor? 

Pensei até que era O Monstro que tinha conseguido se infiltrar de novo. Não vou negar que eu vi ele escondido embaixo da cama, esperando a vez dele… 

Assustei… eu sei que ele ainda tem raiva de ter sido afastado, e se ele se aproximar de novo, vai ser bem mais difícil mandar ele embora… 

E pensei… quais são as formas de tentar melhorar o que eu estou vendo? Olhei bem… e de tudo que eu poderia fazer, a primeira decisão foi colorir as unhas, para deixar a cor chegar mais perto… ele deu um passo pra trás. 

Depois, passamos a cuidar mais do cabelo… deixar menos nós… tomar uma biotina de boas, para ajudar ele a crescer depois da tentativa horrível de ficar loira… A cor natural volta mais tarde… e já estou ansiosa pra voltar a ser morena! (por favor, se alguém me ouvir falando em pintar o cabelo de novo, me dá um tapa na cara, ok?)

A pele… bom, essa parte é mais complicada, né? Não basta só argilas, óleo essencial, corticóides, hidratantes… não adianta fazer um monte de tratamentos, se o lado de dentro tá estragado… eu já saquei que pra mim, a rosácea vem de dentro pra fora… quem já viu a minha pele estar limpa em um dia, e totalmente atacada no dia seguinte… sabe que algo aconteceu no meio tempo… 

A última coisa que faltava para colocar a cabeça de volta no lugar é… a coisa mais importante da minha vida, que também foi deixada de lado durante as paranoias… era voltar a ouvir música. Sim, nem música eu estava ouvindo nestes tempos. Arrumei mil desculpas para não mais apertar o play. Faz sentido? Não. No fundo eu sabia porque eu fiz isso… era para não ter “gatilho de balada”... não pensar em dançar uma noite inteira tomando uma cerveja gelada… não lembrar das aglomerações, do povo esbarrando em você sem medo de vírus… lembrar que nas melhores baladas você não podia nem entrar de boné para não prejudicar a vigilância das câmeras, e agora, se as baladas estivessem abertas, você teria que entrar com uma máscara que cobre todo o seu rosto… e incrivelmente, você só se sente seguro se a pessoa ao seu lado estiver com o rosto todo coberto. 

Mas, eu precisava dar um jeito de rebater isso. Sem ela, nada dos esforços anteriores valeria a pena. Nem surtiria efeito. 

Sendo assim… eu voltei pra música. 



PS: Este desabafo foi construído em duas partes. Quer saber o que acontece depois? Fica de olho nas redes que eu aviso assim que a parte II sair!

E obrigada pela visita em um pedaço da minha vida, nestas palavras em estilo diário, que eu tinha decidido banir deste blog... mas como decisão de TDAH pode ser mudada em qualquer momento, tamos aí... Não sei até quando, mas... obrigada! De coração.


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